O projeto deve começar em dezembro e tem o prazo de 2 anos até a completa a validação nacional
Um estudo que será realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul coordenado por Eduardo Zimmer, professor do Departamento de Farmacologia da UFRGS, buscam validar no Brasil uma pesquisa que referencia nos Estados Unidos que apontam biomarcadores sanguíneos onde é possível indicar precocemente a doença de Alzheimer de 20 a 30 anos antes de manifestar a doença no cérebro.
A primeira etapa do estudo está prevista para começar em dezembro e tem até dois anos para a resolução e envolve a coleta de sangue de três mil voluntários, que servirá como base para o acompanhamento da pesquisa. Os participantes são de dez cidades do Rio Grande do Sul: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Osório, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Maria, Santo Ângelo, Uruguaiana e Veranópolis.
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde do RS, foi investido R$ 1,4 milhão em equipamentos usados para medir biomarcadores no sangue, chamados de plataformas laboratoriais e analíticas ultrassensíveis. A chefe de divisão da Secretaria da Saúde do RS, Marlise Fraga de Souza, conta que é uma realização fazer parte do pioneirismo. “Tenho certeza que vai se tornar, para além de uma pesquisa, uma intervenção, e poder ser de alguma forma aplicado em larga escala, tanto aqui no nosso estado quanto pro país inteiro.”
Esse investimento representa um avanço significativo para o estado em termos de inovação na pesquisa sobre Alzheimer, alinhando-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento de demências. “Quando chegou até nós na Secretaria do Estado da Saúde a proposição do equipamento, primeiramente a gente achou curiosa, como nós na saúde investir em pesquisa, né? Mas quando a gente viu o projeto, olhou o quanto isso tem aplicabilidade no nosso sistema único de saúde’’. ressalta Marlise Fraga.
O principal objetivo é que o estudo, é levar à criação de um exame acessível à população, servindo de base para um plano nacional sobre a doença pelo SUS. Além disso, o projeto visa reduzir os custos do diagnóstico precoce e minimizar o subdiagnóstico de demências na atenção primária, melhorando a qualidade de vida dos idosos.
O estudo brasileiro utilizará como base dados o artigo feito pela Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative, um extenso projeto multicêntrico que visa coletar informações sobre pacientes com a doença em diversas partes do mundo. Com os dados de saúde de mais de 800 pacientes, os pesquisadores identificaram nove miRNAs ligados à presença de proteínas beta-amiloides, dois relacionados à proteína tau e outras oito associadas à neurodegeneração. Os achados foram publicados na revista Alzheimer’s & Dementia.
Na segunda fase da pesquisa, foram analisadas amostras de plasma de mais de 800 pacientes, incluindo indivíduos saudáveis e aqueles com comprometimento cognitivo leve ou demência, para verificar a presença dos miRNAs previamente identificados. Os pacientes também passaram por testes neuropsicológicos comumente utilizados para diagnosticar Alzheimer.
“O exame já está disponível no mundo e no Brasil, os exames são coletados aqui, mas são exportados para análise fora, mas estamos importando conhecimento, o que encarece o processo. Atualmente, o custo do exame gira em torno de R$ 3,5 mil. Com esse estudo, o Rio Grande do Sul se tornará pioneiro na testagem da população, criando evidências científicas nacionais que poderão reduzir o custo do exame para cerca de R$ 200,00”, destaca Zimmer, que acrescenta que a UFRGS possui diversas pesquisas publicadas sobre o tema e colaborações internacionais.
A literatura médica indica que as doenças degenerativas podem começar a se desenvolver de 20 a 30 anos antes do surgimento dos sintomas. Com a possibilidade de realizar testes em larga escala, será possível identificar a doença mais cedo, proporcionando um tempo maior para intervenção antes que os sintomas apareçam. Essa inovação também permitirá a geração de dados valiosos para a formulação de políticas públicas de saúde mais eficazes no Brasil.
Fontes:
Atri A . O espectro clínico da doença de Alzheimer: diagnóstico e tratamento . Med Clin North Am . 2019 ; 103 ( 2 ): 263 – 293 . doi: 10.1016/j.mcna.2018.10.009
Reportagem: Giovanna Retcheski