Alzheimer
em foco

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Cuidadores familiares enfrentam desafios emocionais ao cuidar de parentes com Alzheimer 

Responsabilidade e desgaste emocional marcam a rotina de quem cuida de familiares com a doença “A pior parte de ver seu ente querido, no meu caso minha avó com Alzheimer, é saber que ela nunca mais será a mesma. É ver, dia após dia, o olhar ficando vago, sem expressão. Aquela pessoa que você conhecia parece não existir mais.” Esse é o relato de uma neta que cuidou da avó com Alzheimer e preferiu não se identificar. Essa realidade é compartilhada por muitos cuidadores informais – familiares ou amigos que, sem formação profissional, assumem o desafio de cuidar de um parente com a doença. Esses cuidadores enfrentam esgotamento mental e uma dolorosa sensação de culpa por terem que abrir mão do trabalho, da vida pessoal e de outras responsabilidades para se dedicarem ao familiar que precisa de ajuda. Embora muito se fale sobre a Doença de Alzheimer (DA), pouco se discute o impacto que o diagnóstico tem sobre esses cuidadores, que, em muitos casos, são filhos, netos, amigos ou primos que assumem o cuidado sozinhos e sem preparo adequado. A psicóloga e psicopedagoga Geisa Neves destaca que é fundamental contar com mais de uma pessoa responsável pelo paciente com Alzheimer para evitar que o cuidador adoeça física e mentalmente. “Os cuidados necessários aumentam muito com o avanço da doença. Para quem cuida sozinho, uma boa opção é matricular a pessoa com Alzheimer em Centros-Dia, que oferecem atividades e cuidados especializados, permitindo que o cuidador tenha um momento para si.” O Centro Dia é um serviço gratuito para todas as pessoas. Assistência Social é um direito de toda a população brasileira e não é necessário fazer qualquer tipo de pagamento. Para saber mais acesse aqui. No Brasil, os cuidadores se dividem em três perfis principais: familiares que assumem a responsabilidade; trabalhadores que veem na função uma forma de vencer o desemprego; e profissionais capacitados. Em todos os casos, a sobrecarga é uma constante. Olivia da Silva, contadora e filha de uma paciente com Alzheimer, expressa o dilema da rotina intensa e da autocobrança: “Eu amo minha mãe e me sinto culpada, mas é difícil. Tive que pedir demissão e não tenho tempo para mim. Não quero parar minha vida, mas também não quero abandoná-la.” Um estudo da Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (ReNaDe), de 2023, que ouviu 140 cuidadores em 17 cidades brasileiras, apontou que, na maioria dos casos, o cuidado é responsabilidade de familiares (83,6%), principalmente mulheres (86%), sem remuneração. Entre as queixas, estão noites mal dormidas, estresse e medo. “Ela cuidou de mim a vida toda. Como eu não iria cuidar dela?”, desabafa uma neta. “No início, era a repetição constante que me cansava e estressava. Depois, com o avanço da doença, ela passou a não dormir direito, e eu a cuidava como se fosse uma criança. Foi muito difícil.” É mais um relato de uma filha que cuida do pai com Alzheimer.  Como a família recebe o diagnóstico  Tanto para o paciente quanto para o médico o diagnóstico não é tão fácil além da parte da aceitação do indivíduo e da família o médico também se vê em uma “zona cinza”.  “É difícil explicar ao leigo, porque nem nós médicos sabemos o que está acontecendo, é uma zona cinza, não é como uma bactéria no pulmão, fez o exame de imagem e toma antibiótico e pronto. As doenças na medicina e na geriatria é uma baita confusão, não temos muitas respostas, não temos recursos terapêuticos para revertê la.’’ explica o médico Geriatra Carlos Sperandio. A advogada Cristiane Buffara, filha de uma paciente com Alzheimer conta como foi o processo de diagnóstico: “Foi frustrante ouvir que não tem cura. É uma doença que progride, e temos que aprender a lidar”, Para ela ver a mãe que gostava de sair e passear agora não consegue ficar sozinha é difícil. “Minha mãe sempre foi ativa, gostava de sair com as amigas. Mas, com a pandemia, começamos a notar sinais de repetição e, após levarmos ao médico, recebemos o diagnóstico. Desde então, tivemos que nos reorganizar e evitar deixá-la sozinha.”  Lidar com a repetição também é um desafio vivido pelas famílias de Beatriz Tsutsumi, que tem avó com Alzheimer e conta que a paciência foi conquistada pela rotina: “Aprendemos a lidar com a repetição. Não foi fácil, mas, com o tempo, desenvolvemos paciência.” A psicóloga Ana Lúcia Grochowicz Cavalcante alerta sobre o autocuidado dos cuidadores. “Se você não estiver bem, como vai cuidar de alguém? Então, é necessário buscar o que suporte, apoio e informações é essencial para não ser dominado pela culpa.” Psicólogas recomendam mudanças na rotina para aliviar o peso da responsabilidade: Os cuidados profissionais não apenas auxiliam no bem-estar da família, mas também trazem um carinho especial que só quem cuida diariamente entende. Dolores, cuidadora há 10 anos, compartilha: “Estou todos os dias com minha paciente. Cuidar é um ato de amor que me mantém viva. O sistema de plantões nos ajuda a manter tudo organizado, permitindo que eu sempre busque novas formas de trazer conforto a ela.” Pamela Thuanne da Costa, também cuidadora, reflete sobre a falta de conhecimento dos familiares: “Muitas famílias chegam com dúvidas, e temos a chance de explicar tudo com cuidado, de forma acolhedora.” Reportagem: Giovanna Retcheski e Gabriela Portugal

Até que ponto o esquecimento é normal?

Entenda a diferença entre lapsos de memória e doenças neurodegenerativas Imagine que você está andando pela rua e encontra alguém conhecido. A pessoa se aproxima, cumprimenta você pelo nome, mas, embora saiba quem ela é, você não consegue lembrar o nome dela. Isso é normal?  O geriatra Carlos Sperandio explica que uma maneira de interpretar se o esquecimento vem de uma doença ou não é  entender em conjunto com o paciente se esse esquecimento é recorrente e tem repercussão no dia a dia como esquecer desligar o fogão, ferro, ou buscar o filho na escola já é um sinal de alerta. “O esquecimento, dentro de certos limites, é natural e saudável – uma estratégia biológica que nos permite priorizar informações importantes e otimizar o uso da memória’’. De acordo com a médica neurologista Aline Piva, esse tipo de esquecimento é comum e faz parte do funcionamento da memória, um processo que organiza as informações no cérebro “Não existe esquecimento normal, mas existe esquecimentos que não são caracterizados como síndromes demenciais, e sim um déficit cognitivo leve. São esquecimentos em que o paciente não perde funcionalidade Como funciona o processo da memória? A memória envolve três etapas principais: Registro: a informação é captada e registrada no cérebro. Armazenamento: a informação é consolidada e armazenada. Evocação: a informação armazenada é recuperada quando necessário. Quando há falhas no registro, a informação não é armazenada adequadamente, dificultando a evocação posterior. No caso da doença de Alzheimer, por exemplo, a área do cérebro responsável pelo registro de informações, o hipocampo, é prejudicada, o que impede o armazenamento eficaz. Além disso, problemas na evocação podem estar associados a outras condições, como a depressão, o que pode dificultar a recuperação de informações mesmo que estejam armazenadas. O que diferencia um esquecimento normal de um preocupante? Segundo especialistas para que o esquecimento seja considerado normal, ele deve: – Ser esporádico. – Não interferir nas atividades do dia a dia. – Não causar prejuízos significativos. – Não chamar atenção de forma preocupante. Já o esquecimento que pode indicar algo mais sério apresenta características como: – Frequência aumentada. – Interferência nas atividades cotidianas. – Prejuízo nas funções diárias. – Preocupação de familiares e amigos. Outras causas para o esquecimento Nem todo esquecimento indica Alzheimer. Outras causas incluem: – Deficiência de vitamina B12. – Hipotireoidismo. – Problemas no fígado. – Condições psiquiátricas, como ansiedade e depressão. – Doenças vasculares. Essas causas podem impactar a memória, mas cada uma requer diagnóstico e tratamento específicos para que o funcionamento cognitivo seja mantido em bom estado. Reportagem: Giovanna Retcheski

É preciso atenção à saúde mental do cuidador

Especialistas apontam a terapia e o apoio psicológico como essenciais para manter o bem-estar de cuidadores de idosos que frequentemente enfrentam desafios emocionais e físicos por conta da sobrecarga e rotina intensa A rotina do cuidador, seja familiar ou profissional, muitas vezes é intensa e vem acompanhada da sobrecarga emocional e física, por conta da jornada de trabalho extensa, muitas vezes sem horários fixos ou preparo adequado para o cuidado caso dos familiares. A dedicação e atenção acabam totalmente voltadas ao paciente, seu bem estar e segurança, e os cuidadores podem negligenciar estas mesmas necessidades em suas próprias vidas.  Este hábito pode aumentar o risco de exaustão, depressão e ansiedade, assim prejudicando sua qualidade de vida e o cuidado oferecido ao idoso. Para reduzir esses impactos, recomenda-se que os cuidadores procurem ajuda profissional para aliviar o estresse, além de participarem de atividades de lazer e buscarem apoio de redes de convivência​. Segundo o artigo publicado pela Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, “Implicações na saúde mental de cuidadores de idosos: uma necessidade urgente de apoio formal” em 2010, foram realizadas entrevistas com 50 cuidadores, sobre as modificações observadas após o início das atividades de cuidados. A pesquisa relata que 24% perceberam alterações psicológicas como aumento do estresse, nervosismo, angústia e depressão, e 14% relataram aumento do cansaço e preocupações. Os autores contam que, aproximadamente, de 46 a 59% de cuidadores são clinicamente deprimidos, sendo maior a depressão entre as mulheres, com 49%. A psicóloga Josie Conti, em entrevista para a revista Psicologias do Brasil, diz que a intervenção de um profissional pode ajudar o cuidador a lidar com emoções de ansiedade e depressão, oferecendo estratégias para manejar o estresse e promover a resiliência. Ela também comenta que o cuidado com a saúde mental envolve hábitos saudáveis, estabelecimento de limites, busca de apoio emocional com profissionais e rede de apoio, e o reconhecimento das próprias emoções para evitar burnout, exaustão emocional e estresse. Interações sociais, como ver os amigos e conversar sobre assuntos que não tenham relação com o paciente, são muito importantes para “descansar” a mente. O dia a dia agitado dos cuidadores de idosos, torna difícil que os mesmos possuam horários disponíveis para procurar, e continuar, com ajuda psicológica. Por conta disso, listamos alguns profissionais que atendem de maneira remota, com baixo custo, para maior praticidade: Serviços de Apoio Psicológico da SES-AM já realizou mais de 5 mil atendimentos a profissionais de saúde e à população em geral, de maneira remota e gratuita. Entre em contato: (92) 99258-1056  A Fepo é uma plataforma de Saúde Emocional, que disponibiliza opções de profissionais capacitados em diversas áreas, que realizam consultas online, a baixo custo. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) disponibiliza consultas psicológicas online e gratuitas, além de serviços como psicopedagogia, avaliação neuropsicológica, orientação e muito mais. Além disso, a Clínica Escola pode indicar ex-alunos presentes no mercado que oferecem serviços a preços sociais. Email: centropsicologia@ufpr.br Whatsapp: (41) 8402-5209  Sociedade Brasileira de Psicanálise Oferece serviços de atendimento psicológico online e gratuito.  Whatsapp: (21) 99855-2659 No Centro de Valorização da Vida (CVV), você é atendido por um voluntário, treinado para conversar com todas as pessoas que procuram ajuda e apoio emocional. Curso gratuito, de curta duração, para cuidar de idosos. Reportagem: Gabriela Portugal

A tecnologia aplicada ao cuidado com a doença de Alzheimer

A tecnologia pode ajudar no estímulo cognitivo e no cuidado de pacientes com DA, assim como na autonomia dos pacientes A tecnologia tem se mostrado uma aliada importante no tratamento e cuidado de pacientes com Alzheimer. Segundo o estudo “A utilização de tecnologias assistivas por idosos com doença de Alzheimer”, publicado na Revista Kairós Gerontologia (2023), o uso de dispositivos assistivos, como aplicativos de estimulação cognitiva, têm proporcionado mais independência aos pacientes. A pesquisa destaca que a utilização de tecnologias assistivas por idosos com DA pode contribuir para manter a independência dos pacientes por um período maior, além de ser um auxílio na rotina dos cuidadores, o que traz benefícios significativos na qualidade de vida dos envolvidos. O estudo da Revista MotriSaúde (2020), “Atividade de Lazer e Novas Tecnologias em Pessoas com Doença de Alzheimer”, destaca que o uso de dispositivos assistivos permite que os cuidadores monitorem as atividades dos pacientes em tempo real, reduzindo acidentes como quedas e proporcionando maior tranquilidade para as famílias.  De acordo  com  a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), o  intuito  dos  tratamentos  não  farmacológicos  não  é  fazer  com  que  a  pessoa  com demência volte a ser como era antes da doença, mas que viva o melhor possível, enquanto lida com o quadro. O site conta que quando estimulados e submetidos a atividades que conseguem realizar, os pacientes da doença de Alzheimer apresentam ganho de autoestima e determinação, o que tende a estimular o uso das funções preservadas. De acordo com a psicopedagoga, Geisa Neves, existem aplicativos que oferecem desafios diversos de memória e lógica projetados para estimular a função cognitiva e manter os pacientes mentalmente ativos. Um exemplo é o Memory Life, aplicativo desenvolvido no Brasil, que inclui desafios como “Encontre o objeto”, “Escute os sons” e “Organize o dinheiro”, que estimulam diversas áreas do cérebro. A integração de atividades e aprendizados com familiares e cuidadores nos aplicativos proporciona um ambiente de cuidado mais humanizado e inclusivo, além de reduzir o isolamento social e o sentimento de solidão. Tecnologias como celulares, além de fortalecer as habilidades cognitivas, também têm papel importante na interação social dos idosos. “Tudo o que eles aprendem é uma estimulação melhor do que o que eles já sabem”, disse Geisa. “Quando fazemos atividades pela primeira vez, isso tem um nível de estimulação altíssimo. Quando a atividade é muito nova o cérebro aciona campos que precisa para entender uma coisa que nunca viu, para solucionar. Se eu fiz palavras cruzadas a vida toda, isso deixa de ser um estímulo adequado por conta da automatização. Quanto mais fazemos algo, menos difícil essa coisa se torna, mas quanto mais coisas novas, melhor. Quanto mais eu diversifico e obtenho informações novas, melhor.” A psicopedagoga também fala de outros dispositivos úteis, que podem ajudar o paciente, como o Kindle, um e-reader parecido com um smartphone ou tablet, porém a sua única função é ser um dispositivo de livros digitais. Ela explica que idosos, geralmente, têm maior dificuldade de visão pois, durante o processo de envelhecimento, é natural que a retina receba menos luminosidade. O Kindle se torna útil pela possibilidade de aumentar o brilho da tela e o tamanho da letra. “A leitura ativa diversos mecanismos no cérebro. Desde juntar a letra, formar a palavra, formar a frase, interpretar o que está lendo até manter a atenção e concentração. Tudo isso treina a atenção, a memória e a criatividade. Quando eu leio ‘a princesa entrou no castelo’ eu imaginei a princesa de um jeito, você de outro e se 10 pessoas estiverem conosco, cada uma fez uma imagem diferente.” A utilização de aplicativos de estimulação cognitiva e sistemas de assistência virtual, como a Alexa, pode levar o tratamento de Alzheimer a ser mais interativo, integrando pacientes, familiares e a tecnologia. Muitas famílias utilizam a Alexa para conversar com os idosos e, assim, reduzir o sentimento de solidão. “A Alexa pode ajudar no controle das medicações para os idosos que, apesar do Alzheimer, ainda estão conscientes e lúcidos, no sentido de conseguirem fazer as suas coisas sozinhos ou morar sozinhos”, conta. “Para programar horário de remédios, lembrar de tomar água… Até para idosos que passam muito tempo sozinhos, dá para conversar com ela, eles perguntam e ela responde. Isso chega a amenizar a sensação de solidão.” Geisa ressalta que quanto mais autônomo o idoso, maior a recomendação de deixar as tecnologias com ele. Sendo assim, estas podem ser bem utilizadas nos estágios iniciais da demência. O médico geriatra, Carlos Sperandio, comenta que o futuro das tecnologias aplicadas ao Alzheimer é promissor, com a expansão de dispositivos cada vez mais especializados e acessíveis. “Para geração que ainda vai envelhecer, aplicativos como caça palavras, sudoku e quebra cabeças podem sim ajudar”, disse. “Acredito que vamos ter um momento onde a faixa etária dos pacientes, que ainda vão envelhecer e ter diagnósticos de demência, vai ser uma geração muito acostumada com a tecnologia. Talvez possamos ter mais um ganho de tratamento.”  No entanto, Carlos reforça que os estímulos e exercícios têm de ser feitos com constância. Isso inclui exercícios físicos, mentais, ter uma dieta saudável e um sono regulado. Com um estilo de vida saudável, dessa maneira, o paciente pode ter declínio gradual, mas sem eles, a piora é repentina e brusca. Embora a implementação de tecnologias no cuidado com o Alzheimer ofereça novas possibilidades de tratamento e monitoramento, os desafios ainda são significativos. À medida que mais dispositivos assistivos e aplicativos são desenvolvidos, a adaptação de tecnologias ao cuidado com Alzheimer se tornam mais inclusivos e acessíveis. Alguns aplicativos que podem ajudar pessoas com Alzheimer: I-Remember Usa inteligência artificial (IA) para ajudar pessoas com Alzheimer a reconhecerem rostos  Altoida Desenvolvido por neurocientistas na Suíça, este aplicativo pode ajudar a detectar o Alzheimer até 10 anos antes do surgimento dos primeiros sintomas  Memory Life Desenvolvido sob a orientação da Terapia Ocupacional, este aplicativo possui jogos para estimular a cognição de idosos, como “Encontre o Objeto”, “Escute os Sons” e “Organize o Dinheiro”  Recordar Aplicativo cearense desenvolvido pela equipe

Perda auditiva aumenta risco de demência em 42%, alerta estudo

Pesquisa mostra que dificuldades auditivas não tratadas podem acelerar o declínio cognitivo Ouvir música, o som do mar, a voz de um amigo especial: são apenas alguns dos milhares de sons que o cérebro interpreta diariamente. Essa capacidade não se limita à simples identificação dos sons, mas também à atribuição de significado, permitindo uma conexão com o mundo. Essa tarefa de interpretar o som envolve diversas áreas do cérebro, sendo o córtex auditivo a principal responsável. Embora a deterioração neurocognitiva tenha múltiplas causas, a perda auditiva não tratada é um fator de risco evitável. (imagem desenvolvida por IA) Um estudo publicado na revista The Lancet Public Health, com dados de 438 mil pessoas, revelou que indivíduos entre 40 e 69 anos com perda auditiva não tratada têm 42% mais chances de desenvolver degeneração neurocognitiva, quando comparados àqueles que utilizam aparelhos auditivos. Essa pesquisa, considerada um marco histórico por especialistas, reforça a ligação entre a perda auditiva e o risco de demência de Alzheimer.  A pesquisa ressalta que a privação sensorial e o isolamento social, contribuem no processo neurodegenerativo do cérebro. Outra possibilidade é que os neurônios e as vias cerebrais associados à audição e à cognição estejam diretamente conectados. Uma teoria sugere que a dificuldade em ouvir pode alterar a atividade cerebral no lobo temporal medial, o que, por sua vez, pode estar relacionado à patologia do Alzheimer. Segundo o especialista otorrinolaringologista Henrique Furlan Pauna, o sistema neural que conecta a área auditiva ao córtex frontal é uma rede complexa que envolve várias regiões cerebrais associadas à memória, raciocínio e outras funções cognitivas. “A falta de estimulação vai causar uma atrofia nessas áreas cerebrais e também levará a uma aceleração do processo degenerativo”, explica.  De acordo com os resultados apresentados no estudo, os aparelhos auditivos não apresentam uma cura para a demência, porém torna-se a principal fonte para a reabilitação, a qualidade de vida e ajuda do paciente. O médico geriatra Carlos Sperandio explica que a falta de estímulos cerebrais pode limitar as capacidades do nosso cérebro. “Processamos mais de um milhão de informações por segundo. Somos seres conectados ao mundo pelos sentidos: visão, audição e paladar. São eles que mantêm nosso cérebro ativo. Se algum desses sentidos é prejudicado, o cérebro se limita, restringindo seu processamento.”   A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 25% da população mundial, ou seja, 2,5 bilhões de pessoas, terão algum tipo de perda auditiva até 2050.  O especialista Henrique diz que a maioria dos casos de perda auditiva, por conta da tecnologia e diagnóstico precoce, podem ser reversíveis.“Há muita dificuldade em introduzir o aparelho auditivo, por questão estética e por preconceito, mas é necessário o estímulo, pois a perda auditiva é reversível e melhorar a qualidade de vida, além de diminuir o isolamento social e a prevenir demências como a de Alzheimer”. O estudante de 20 anos Guilherme de Cássio tem perda auditiva severa moderada desde os 4 anos e conseguiu usar um aparelho auditivo apenas aos 7 anos. “Era muito caro comprar um aparelho e pelo SUS era uma burocracia e não conseguimos na época, consegui usar porque uma tia que mora em Portugal trouxe pra mim”. O estudante ainda explica que não conhecia a relação auditiva e demências. “Eu não tinha ideia de que a perda auditiva poderia desenvolver demência, não é um assunto muito falado”.  No Brasil, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), disponibiliza aparelhos auditivos gratuitamente para a população, entretanto esse processo pode levar meses até mais de um ano. Os custos em rede particular podem variar de R$ 2.000 até R$ 20.000 ou mais para um par de aparelhos dependo do modelo. Os dados da pesquisa concluíram  que o tratamento da perda auditiva com aparelhos auditivos em idosos é eficaz na redução do risco de demência, equiparando-o ao de indivíduos sem problemas de audição. Como a perda auditiva pode contribuir para o Alzheimer? Os estudos mostram que pessoas com perda auditiva tendem a se isolar socialmente, evitando situações em que a comunicação seja difícil. Essa falta de interação social pode afetar negativamente as funções cognitivas e aumentar o risco de desenvolver demência.  Outro fator relatado é o esforço cognitivo para compensar a perda auditiva, o cérebro precisa fazer um esforço maior para processar as informações sonoras. Esse esforço constante pode levar à fadiga cognitiva e, a longo prazo, contribuir para o declínio cognitivo. Primeiros passos da perda auditiva O especialista Henrique diz que os primeiros sinais de perda auditiva podem ser sutis e muitas vezes passam despercebidos “geralmente são os familiares que percebem os sinais que são TV alta, não ouvem a campainha, mas existem dos sintomas mais comuns”. Os sintomas variam de acordo com cada indivíduo, entre ele estão:  Dificuldade em entender a fala, especialmente em ambientes ruidosos: É comum ter que pedir para as pessoas repetirem o que falaram ou aumentar o volume da televisão. Zumbido nos ouvidos: um som persistente, como um zumbido, assobio ou chiado, pode indicar a presença de perda auditiva. Sensação de isolamento: A dificuldade em se comunicar pode levar a um sentimento de isolamento social. Necessidade de aumentar o volume do rádio, televisão ou outros dispositivos de áudio: Se você precisa aumentar o volume mais do que outras pessoas, pode ser um sinal de que sua audição está diminuindo. Prevenir é cuidar  Especialistas orientam que se houver uma suspeita de perda auditiva, é importante procurar um médico otorrinolaringologista. “Não espere chegar a perder 100%, fique alerta aos sinais e procure um especialista”, orienta Henrique.  É importante ressaltar  A perda auditiva não é a única causa do Alzheimer. O Alzheimer é uma doença complexa com múltiplos fatores de risco. O tratamento da perda auditiva pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da doença de Alzheimer ou retardar sua progressão. Fonte:  Jennifer A Deal, Nicholas S Reed: Saúde auditiva e demência. thelancet. 2023 Prevenção, intervenção e cuidados com a demência: relatório de 2020 da Comissão Lancet Lanceta. 2020; 396 :413-446 SUS oferece assistência integral para pessoas com deficiência auditiva 

A relação da nutrição e dieta com a prevenção do Alzheimer

Estudos mostram como a nossa alimentação no dia a dia pode influenciar na saúde cerebral A relação entre alimentação e a prevenção do Alzheimer tem sido um tema de grande interesse na ciência, de acordo com o artigo “The impact of loneliness and social isolation on the development of cognitive decline and Alzheimer’s Disease” (O impacto da solidão e isolamento social no desenvolvimento de declínio cognitivo e doença do Alzheimer), publicado em 2023 pela revista “Science Direct”. A pesquisa destaca que uma nutrição adequada pode desempenhar um papel crucial na proteção do cérebro contra os processos degenerativos que caracterizam a doença. Entre os padrões alimentares destacados, as dietas mediterrânea e DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension ou “Métodos Alimentares para Prevenir Hipertensão”) são apontadas como particularmente eficazes na redução do risco de desenvolvimento de demências, incluindo o Alzheimer. A dieta mediterrânea é rica em grãos, frutas, vegetais, legumes, ervas e azeite. Nela, as fontes de proteína são peixes ricos em ácidos graxos ômega-3, como salmão, sardinha e atum. Já alimentos ricos em gorduras, como a carne vermelha e a manteiga, devem ser evitados, porém outras proteínas animais magras, como frango ou peru, podem ser consumidas em menor escala. Não é recomendado o consumo de alimentos ultraprocessados e açúcares adicionados. Ovos e laticínios, como iogurte e queijo, também podem fazer parte da dieta mediterrânea, mas com moderação. O método alimentar DASH não é muito diferente, com baixo consumo de carne vermelha e alta em vegetais e grãos. Seu perfil nutricional é alto em potássio, magnésio, cálcio e fibras, enquanto sódio e gorduras têm níveis baixos. De acordo com o artigo “O efeito da nutrição no Alzheimer” (2023), pela revista “Frontiers in Neuroscience”, os dois planos alimentares possuem efeitos anti-inflamatórios, e são capazes de diminuir o estresse oxidativo, como um papel protetor contra a DA (doença do Alzheimer). O artigo também relata que pacientes com DA, tendem a ter concentrações de gorduras saturadas mais altas do que a população geral.  “Não existe uma dieta em particular, regrada, com alimentos específicos para combater qualquer doença neurológica,” conta a nutricionista Bruna Tosin. “O ideal é ter refeições ricas em frutas, vegetais, grãos integrais, azeite de oliva e peixes, alimentos que ajudam a diminuir a inflamação e o estresse oxidativo no cérebro, e indicado a suplementação do ômega-3.” Estudos realizados pela revista britânica BMC Medicine (2023), sugerem que seguir uma dieta mediterrânea pode reduzir o risco de Alzheimer em até 23%. A ação de antioxidantes presentes em alimentos como peixes ricos em ômega-3, azeite e vegetais de folhas verdes também é benéfica para a saúde cerebral, combatendo a formação de placas beta-amiloides, uma das principais características da doença. Um gráfico comparativo entre a dieta mediterrânea e a ocidental, mais rica em gorduras saturadas e açúcares, demonstra uma associação entre padrões alimentares e incidência de demência. De acordo o artigo Alimentação Como Fator De Proteção Para Pacientes Com Alzheimer (2018), indivíduos que seguem uma dieta rica em componentes antioxidantes apresentam menor taxa de declínio cognitivo em comparação aos que seguem uma dieta ocidental. Isso sugere que a escolha dos alimentos impacta diretamente a saúde do cérebro a longo prazo. Os ácidos graxos ômega-3, como o DHA (ácido docosa-hexaenoico) e o EPA (ácido eicosapentaenoico), presentes em peixes como salmão e sardinha, são conhecidos por suas propriedades neuroprotetoras. Estudos revisados no Frontiers in Nutrition revelam que uma ingestão regular desses nutrientes está associada à diminuição dos níveis de inflamação cerebral, assim como a falta deles pode diminuir a resistência de neurotoxinas comuns em pacientes de DA. A correção desta deficiência, até mesmo pelo uso de probióticos receitados por profissionais, pode trazer benefícios para o sistema cognitivo e a memória recente da pessoa diagnosticada. “A manutenção de um microbioma saudável por meio de uma dieta rica em fibras e probióticos pode ajudar a reduzir o risco de Alzheimer, já que a saúde intestinal está diretamente ligada ao funcionamento do sistema nervoso central”, relata o médico Mauro Dal Lin, gastroenterologista. “Para manter a microbiota saudável, o principal é evitar alimentos ultraprocessados, como chocolates, refrigerantes, salgadinhos industrializados… ‘descasque mais e desembale menos’!”Um estudo recente da Harvard Gazette demonstrou que uma abordagem holística que combina dieta saudável, exercícios e apoio social pode melhorar os biomarcadores relacionados ao Alzheimer em pacientes nos estágios iniciais da doença. Esse estudo destaca a importância de um plano de ação integrado, que não se limita apenas à dieta, mas que inclui o cuidado com o estilo de vida como um todo. Bruna Tosin, formada em nutrição pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especializada em qualidade de vida e longevidade, comenta que, além da dieta, o exercício físico e a manutenção da massa muscular, são fundamentais para prevenir o desenvolvimento da doença do Alzheimer. Segundo Tosin, a perda de massa muscular no processo de envelhecimento é ligada à maior chance de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.  Apesar dos benefícios bem documentados de uma alimentação saudável, a implementação prática de dietas preventivas em larga escala enfrenta desafios. “As pessoas tentam impor uma dieta no seu dia a dia, como receita de bolo, que para todos vai dar o mesmo resultado.”, comenta a nutricionista. “Como eu disse, não temos uma dieta certa para todos os pacientes de Alzheimer, pois cada um tem sua individualidade. Geralmente, esse é o erro. Deve ser um planejamento alimentar que a pessoa consiga, principalmente, sustentar a longo prazo, para que os resultados sejam melhores e prolongados.” Reportagem: Gabriela Portugal

Alzheimer e Diabetes: qual a relação entre eles

A doença de Alzheimer e o diabetes, são duas condições crônicas que acometem milhões de pessoas em todo o mundo, e elas podem estar mais conectadas do que se imaginava. Pesquisas apontam que a doença de Alzheimer pode não ser apenas uma questão da acumulação de placas beta-amiloides e de emaranhados da proteína tau hiperfosforilada, como se pensava anteriormente, mas também de como as nossas células cerebrais interagem com a insulina. Caracterizada pela produção insuficiente,ou pela má absorção de insulina – hormônio responsável pelo controle da glicose (açúcar) no sangue e pelo fornecimento de energia ao organismo –, a diabetes tem sido cada vez mais vista como um fator de risco para o desenvolvimento de Alzheimer.  O médico especialista em geriatria Carlos Sperandio, explica: “Então, o diabetes é um fator de risco. No cérebro, nós temos pequenos vasos condutores, se esses vasos começam a ter problemas, sejam eles, como diabetes, como pressão alta, como tabagismo, como colesterol, todos esses fatores de risco cardiovasculares, vão fazer com que esses vasos aceleram a perderam a habilidade de levar os nutrientes e o oxigênio para como células nervosas, os neurônios. Quando esses neurônios começam a sofrer, eles começam a ficar alterados. Essas alterações são o primeiro passo para as doenças neurodegenerativas.”  O diabetes mellitus e a doença de Alzheimer são condições associadas ao envelhecimento, com prevalência e incidência que aumentam com o passar dos anos. O diabetes tem sido amplamente vinculado ao declínio cognitivo e a um risco maior de desenvolvimento de diferentes tipos de demência, incluindo o Alzheimer. Assim, o envelhecimento é reconhecido como um fator de risco significativo para ambas as doenças. Atualmente, evidências do campo acadêmico apontam para uma conexão entre o diabetes tipo 2 e a doença de Alzheimer. O diabetes provoca neurodegeneração, causando mudanças na função e estrutura vascular, no metabolismo da glicose, na sinalização da insulina e no metabolismo da proteína beta-amiloide. A doença de Alzheimer, por sua vez, é o transtorno neurodegenerativo mais comum, caracterizado por perda de neurônios, formação de placas senis de beta-amiloide, emaranhados neurofibrilares com proteínas tau no cérebro, além de proliferação de astrócitos e ativação da microglia. Essas características também incluem disfunção mitocondrial e mudanças nas sinapses neuronais. O médico Sperandio ressalta que o paciente com diabetes precisa ficar atento aos tratamentos e cuidados antecipados, afina o estilo de vida pode comprometer a saúde o paciente “Por uma questão de lógica, o paciente com diabetes tipo 1 está sempre em alerta, tendo que tomar cuidados diários com alimentação, e outros cuidados, já o paciente que desenvolve o tipo 2 está mais provável a desenvolver demências, já que não tem um estilo de vida mais saudável”  Ainda não se compreende completamente o mecanismo exato que desencadeia as alterações no Alzheimer, mas a hipótese da cascata amiloide sugere que o acúmulo anormal do peptídeo beta-amiloide pode iniciar ou contribuir para o desenvolvimento da doença. O Alzheimer também afeta o metabolismo da glicose de maneira sistêmica, induzindo mudanças comportamentais, problemas de memória, disfunção hipotalâmica e fragilidade. Durante o tratamento de pacientes com diabetes, a hipoglicemia é uma condição frequente e pode acelerar a neurodegeneração. Dessa forma, diabetes e Alzheimer podem se influenciar mutuamente em um ciclo vicioso de neurodegeneração. Diversos fatores moleculares, celulares, físicos e clínicos contribuem para a interação entre essas doenças, e a investigação desses fatores pode apontar para novos alvos terapêuticos no tratamento da neurodegeneração em pessoas com diabetes.Em uma pesquisa recente, que incluiu uma metanálise de dados de diversos estudos de coorte envolvendo 1.746.777 indivíduos, foi constatado que o risco de desenvolver Alzheimer é maior entre pessoas com diabetes, especialmente em populações orientais. As evidências biológicas e epidemiológicas reforçam a ligação entre essas condições, sugerindo a importância de estratégias de tratamento voltadas à redução do risco de Alzheimer em pacientes com diabetes. Diabetes tipo 3? O termo surgiu em 2005 na Universidade de Rhode Island, onde pesquisadores apresentaram a ideia de que o Alzheimer poderia ser uma forma de diabetes cerebral, caracterizada por resistência à insulina e disfunção metabólica. O novo tipo de diabetes seria chamado de “diabetes tipo 3”. Se juntaria ao tipo 1, de origem mais genética do que ambiental; tipo 2, com mais influência ambiental do que genética; e gestacional, que ocorre em algumas gestantes. “Esse termo, diabetes tipo 3, seria uma apresentação de uma síndrome metabólica- conjunto de sinais e sintomas relacionados ao metabolismo, nesse caso o açúcar- então o metabolismo do açúcar se manifestando no cérebro. Quando se fala de diabetes tipo 3 e Alzheimer estamos falando de uma operação células nos neurônios que não estão com a atividade certa, muito provavelmente ao metabolismo desse açúcar não sendo o adequado, nesse sentido as células não conseguem dar respostas adequada aos estímulos, fazendo com que se desenvolva a doença.” explica no médico Sperandio.  Embora seja importante ressaltar que esse não é um termo aceito por toda a comunidade científica, é uma hipótese que pode ser útil para contribuir para uma visão mais completa da doença. Fontes: DIEHL, Thomas; MULLINS, Roger; KAPOGIANNIS, Dimitrios. Insulin Resistance in Alzheimer’s Disease. Translational Research, 2016.  SHINOHARA, Mitsuru; SATO, Naoyuki. Bidirectional interactions between diabetes and Alzheimer’s disease. Neurochemistry International, 2017.  ZHANG, Jieyu et al. An updated Meta-Analysis of cohort studies: diabetes and risk of Alzheimer’s disease. Diabetes Research and Clinical Practice, 2016.  https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31820484/ Kavya Jash 1, Piyush Gondaliya 1, Prathibha Kirave 1, Bhagyashri Kulkarni 1, Aditya Sunkaria 1, Kiran Kalia 1 Disfunção cognitiva: uma ligação crescente entre diabetes e doença de Alzheimer 2024 Reportagem: Giovanna Retcheski

Estudo no Rio Grande do Sul busca validar pesquisa com biomarcadores sanguíneos para diagnóstico precoce de Alzheimer no Brasil

O projeto deve começar em dezembro e tem o prazo de 2 anos até a completa a validação nacional Um estudo que será realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul coordenado por Eduardo Zimmer, professor do Departamento de Farmacologia da UFRGS, buscam validar no Brasil uma pesquisa que referencia nos Estados Unidos que apontam biomarcadores sanguíneos onde é possível indicar precocemente a doença de Alzheimer de 20 a 30 anos antes de manifestar a doença no cérebro.  A primeira etapa do estudo está prevista para começar em dezembro e tem até dois anos para a resolução e envolve a coleta de sangue de três mil voluntários, que servirá como base para o acompanhamento da pesquisa. Os participantes são de dez cidades do Rio Grande do Sul: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Osório, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Maria, Santo Ângelo, Uruguaiana e Veranópolis. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde do RS, foi investido R$ 1,4 milhão em equipamentos usados para medir biomarcadores no sangue, chamados de plataformas laboratoriais e analíticas ultrassensíveis.  A chefe de divisão da Secretaria da Saúde do RS, Marlise Fraga de Souza, conta que é uma realização fazer parte do pioneirismo. “Tenho certeza que vai se tornar, para além de uma pesquisa, uma intervenção, e poder ser de alguma forma aplicado em larga escala, tanto aqui no nosso estado quanto pro país inteiro.” Esse investimento representa um avanço significativo para o estado em termos de inovação na pesquisa sobre Alzheimer, alinhando-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento de demências. “Quando chegou até nós na Secretaria do Estado da Saúde a proposição do equipamento, primeiramente a gente achou curiosa, como nós na saúde investir em pesquisa, né? Mas quando a gente viu o projeto, olhou o quanto isso tem aplicabilidade no nosso sistema único de saúde’’. ressalta Marlise Fraga.  O principal objetivo é que o estudo, é levar à criação de um exame acessível à população, servindo de base para um plano nacional sobre a doença pelo SUS. Além disso, o projeto visa reduzir os custos do diagnóstico precoce e minimizar o subdiagnóstico de demências na atenção primária, melhorando a qualidade de vida dos idosos. O estudo brasileiro utilizará como base dados o artigo feito pela Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative, um extenso projeto multicêntrico que visa coletar informações sobre pacientes com a doença em diversas partes do mundo. Com os dados de saúde de mais de 800 pacientes, os pesquisadores identificaram nove miRNAs ligados à presença de proteínas beta-amiloides, dois relacionados à proteína tau e outras oito associadas à neurodegeneração. Os achados foram publicados na revista Alzheimer’s & Dementia. Na segunda fase da pesquisa, foram analisadas amostras de plasma de mais de 800 pacientes, incluindo indivíduos saudáveis e aqueles com comprometimento cognitivo leve ou demência, para verificar a presença dos miRNAs previamente identificados. Os pacientes também passaram por testes neuropsicológicos comumente utilizados para diagnosticar Alzheimer. “O exame já está disponível no mundo e no Brasil, os exames são coletados aqui, mas são exportados para análise fora, mas estamos importando conhecimento, o que encarece o processo. Atualmente, o custo do exame gira em torno de R$ 3,5 mil. Com esse estudo, o Rio Grande do Sul se tornará pioneiro na testagem da população, criando evidências científicas nacionais que poderão reduzir o custo do exame para cerca de R$ 200,00”, destaca Zimmer, que acrescenta que a UFRGS possui diversas pesquisas publicadas sobre o tema e colaborações internacionais. A literatura médica indica que as doenças degenerativas podem começar a se desenvolver de 20 a 30 anos antes do surgimento dos sintomas. Com a possibilidade de realizar testes em larga escala, será possível identificar a doença mais cedo, proporcionando um tempo maior para intervenção antes que os sintomas apareçam. Essa inovação também permitirá a geração de dados valiosos para a formulação de políticas públicas de saúde mais eficazes no Brasil. Fontes: Atri A . O espectro clínico da doença de Alzheimer: diagnóstico e tratamento . Med Clin North Am . 2019 ; 103 ( 2 ): 263 – 293 . doi: 10.1016/j.mcna.2018.10.009 Reportagem: Giovanna Retcheski

Organizações brasileiras que protagonizam ações e estudos de alzheimer

O Alzheimer é uma das demências mais comuns onde representa um desafio crescente para a saúde pública no Brasil e no mundo. Estimativas apontam que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas vivem com Alzheimer no Brasil.  Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) , o Alzheimer não tem cura, mas estudos da Alzheimer’s Association apontam que a prevenção e o cuidado com o estilo de vida são fatores determinantes para retardar a doença. Algumas organizações brasileiras têm se destacado no desenvolvimento de ações e estudos voltados para a prevenção, diagnóstico e tratamento dessa doença.  Abaixo, listamos algumas dessas instituições: Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) Fundada em 2002, a ABRAz é uma das principais instituições dedicadas ao apoio de pacientes e familiares afetados pelo Alzheimer. A associação promove a conscientização, a educação e oferece suporte emocional. Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP  O IPq realiza pesquisas avançadas sobre o Alzheimer e outras demências. O instituto também oferece serviços de diagnóstico e tratamento, além de programas de formação e capacitação. Universidade de São Paulo (USP) – Grupo de Pesquisa em Neurociências   Vários grupos de pesquisa da USP, incluindo o Instituto de Psicologia e o Instituto de Ciências Biomédicas, conduzem estudos sobre o Alzheimer, focando em aspectos neurobiológicos e clínicos. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)   A SBGG é uma referência na promoção de estudos e pesquisas sobre envelhecimento saudável e doenças relacionadas, incluindo o Alzheimer. A sociedade realiza eventos e publica diretrizes para profissionais da saúde.  Grupo de Estudos sobre Demências da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)  Este grupo é dedicado à pesquisa e ao desenvolvimento de intervenções para demências, incluindo o Alzheimer. Realiza estudos clínicos e promove a educação continuada para profissionais. Centro de Referência em Saúde do Idoso (CRSI)  Este centro realiza atendimentos e pesquisas sobre saúde mental do idoso, incluindo o Alzheimer. Promove também a formação de profissionais e a conscientização da população. Essas organizações desempenham um papel crucial no avanço do conhecimento sobre o Alzheimer no Brasil. Através de pesquisas, apoio a pacientes e iniciativas de conscientização, elas ajudam a construir uma sociedade mais informada e preparada para lidar com essa condição. O trabalho colaborativo entre instituições acadêmicas, de saúde e de apoio é fundamental para enfrentar os desafios impostos pelo Alzheimer e melhorar a qualidade de vida dos afetados. Reportagem:  Giovanna Retcheski

Alzheimer
em foco:

O portal que auxilia na jornada da convivência com o Alzheimer, oferecendo informações claras, acessíveis e atualizadas sobre a doença.

Contato:

contato@alzheimeremfoco.com.br

Equipe:

Gabriela Portugal

Giovanna Retcheski

Kátia Brembatti

© 2024 Alzheimer em foco, todos os direitos reservados.