A tecnologia pode ajudar no estímulo cognitivo e no cuidado de pacientes com DA, assim como na autonomia dos pacientes
A tecnologia tem se mostrado uma aliada importante no tratamento e cuidado de pacientes com Alzheimer. Segundo o estudo “A utilização de tecnologias assistivas por idosos com doença de Alzheimer”, publicado na Revista Kairós Gerontologia (2023), o uso de dispositivos assistivos, como aplicativos de estimulação cognitiva, têm proporcionado mais independência aos pacientes. A pesquisa destaca que a utilização de tecnologias assistivas por idosos com DA pode contribuir para manter a independência dos pacientes por um período maior, além de ser um auxílio na rotina dos cuidadores, o que traz benefícios significativos na qualidade de vida dos envolvidos.
O estudo da Revista MotriSaúde (2020), “Atividade de Lazer e Novas Tecnologias em Pessoas com Doença de Alzheimer”, destaca que o uso de dispositivos assistivos permite que os cuidadores monitorem as atividades dos pacientes em tempo real, reduzindo acidentes como quedas e proporcionando maior tranquilidade para as famílias.
De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), o intuito dos tratamentos não farmacológicos não é fazer com que a pessoa com demência volte a ser como era antes da doença, mas que viva o melhor possível, enquanto lida com o quadro. O site conta que quando estimulados e submetidos a atividades que conseguem realizar, os pacientes da doença de Alzheimer apresentam ganho de autoestima e determinação, o que tende a estimular o uso das funções preservadas.
De acordo com a psicopedagoga, Geisa Neves, existem aplicativos que oferecem desafios diversos de memória e lógica projetados para estimular a função cognitiva e manter os pacientes mentalmente ativos. Um exemplo é o Memory Life, aplicativo desenvolvido no Brasil, que inclui desafios como “Encontre o objeto”, “Escute os sons” e “Organize o dinheiro”, que estimulam diversas áreas do cérebro.
A integração de atividades e aprendizados com familiares e cuidadores nos aplicativos proporciona um ambiente de cuidado mais humanizado e inclusivo, além de reduzir o isolamento social e o sentimento de solidão. Tecnologias como celulares, além de fortalecer as habilidades cognitivas, também têm papel importante na interação social dos idosos.
“Tudo o que eles aprendem é uma estimulação melhor do que o que eles já sabem”, disse Geisa. “Quando fazemos atividades pela primeira vez, isso tem um nível de estimulação altíssimo. Quando a atividade é muito nova o cérebro aciona campos que precisa para entender uma coisa que nunca viu, para solucionar. Se eu fiz palavras cruzadas a vida toda, isso deixa de ser um estímulo adequado por conta da automatização. Quanto mais fazemos algo, menos difícil essa coisa se torna, mas quanto mais coisas novas, melhor. Quanto mais eu diversifico e obtenho informações novas, melhor.”
A psicopedagoga também fala de outros dispositivos úteis, que podem ajudar o paciente, como o Kindle, um e-reader parecido com um smartphone ou tablet, porém a sua única função é ser um dispositivo de livros digitais. Ela explica que idosos, geralmente, têm maior dificuldade de visão pois, durante o processo de envelhecimento, é natural que a retina receba menos luminosidade. O Kindle se torna útil pela possibilidade de aumentar o brilho da tela e o tamanho da letra.
“A leitura ativa diversos mecanismos no cérebro. Desde juntar a letra, formar a palavra, formar a frase, interpretar o que está lendo até manter a atenção e concentração. Tudo isso treina a atenção, a memória e a criatividade. Quando eu leio ‘a princesa entrou no castelo’ eu imaginei a princesa de um jeito, você de outro e se 10 pessoas estiverem conosco, cada uma fez uma imagem diferente.”
A utilização de aplicativos de estimulação cognitiva e sistemas de assistência virtual, como a Alexa, pode levar o tratamento de Alzheimer a ser mais interativo, integrando pacientes, familiares e a tecnologia. Muitas famílias utilizam a Alexa para conversar com os idosos e, assim, reduzir o sentimento de solidão.
“A Alexa pode ajudar no controle das medicações para os idosos que, apesar do Alzheimer, ainda estão conscientes e lúcidos, no sentido de conseguirem fazer as suas coisas sozinhos ou morar sozinhos”, conta. “Para programar horário de remédios, lembrar de tomar água… Até para idosos que passam muito tempo sozinhos, dá para conversar com ela, eles perguntam e ela responde. Isso chega a amenizar a sensação de solidão.”
Geisa ressalta que quanto mais autônomo o idoso, maior a recomendação de deixar as tecnologias com ele. Sendo assim, estas podem ser bem utilizadas nos estágios iniciais da demência.
O médico geriatra, Carlos Sperandio, comenta que o futuro das tecnologias aplicadas ao Alzheimer é promissor, com a expansão de dispositivos cada vez mais especializados e acessíveis.
“Para geração que ainda vai envelhecer, aplicativos como caça palavras, sudoku e quebra cabeças podem sim ajudar”, disse. “Acredito que vamos ter um momento onde a faixa etária dos pacientes, que ainda vão envelhecer e ter diagnósticos de demência, vai ser uma geração muito acostumada com a tecnologia. Talvez possamos ter mais um ganho de tratamento.”
No entanto, Carlos reforça que os estímulos e exercícios têm de ser feitos com constância. Isso inclui exercícios físicos, mentais, ter uma dieta saudável e um sono regulado. Com um estilo de vida saudável, dessa maneira, o paciente pode ter declínio gradual, mas sem eles, a piora é repentina e brusca.
Embora a implementação de tecnologias no cuidado com o Alzheimer ofereça novas possibilidades de tratamento e monitoramento, os desafios ainda são significativos. À medida que mais dispositivos assistivos e aplicativos são desenvolvidos, a adaptação de tecnologias ao cuidado com Alzheimer se tornam mais inclusivos e acessíveis.
Alguns aplicativos que podem ajudar pessoas com Alzheimer:
I-Remember
Usa inteligência artificial (IA) para ajudar pessoas com Alzheimer a reconhecerem rostos
Altoida
Desenvolvido por neurocientistas na Suíça, este aplicativo pode ajudar a detectar o Alzheimer até 10 anos antes do surgimento dos primeiros sintomas
Memory Life
Desenvolvido sob a orientação da Terapia Ocupacional, este aplicativo possui jogos para estimular a cognição de idosos, como “Encontre o Objeto”, “Escute os Sons” e “Organize o Dinheiro”
Recordar
Aplicativo cearense desenvolvido pela equipe do Projeto Novos Negócios em TIC (IFCE-SETEC)
Reportagem: Gabriela Portugal